domingo, 21 de outubro de 2012

Vereadores concentram votação

Pelo menos18 dos 43 eleitos para a Câmara tiveram votação concentrada em regiões específicas da Capital
A nova composição da Câmara Municipal de Fortaleza revela que vereadores de bairro ainda têm presença expressiva no Poder Legislativo. Neste ano, pelo menos 41% dos 43 vereadores eleitos na Capital tiveram votação concentrada em determinadas regiões da cidade. O cientista político Horácio Frota explica que o caráter assistencialista do chamado vereador de bairro deixou de existir, analisando que essa concentração de votos ocorre por conta da pulverização das candidaturas e do trabalho de convencimento do eleitor realizado pelos postulantes nos locais onde já são conhecidos.

A líder comunitária Ba tem 51% dos seus 5.011 votos computados somente nas urnas dos bairros Manoel Sátiro, Parque São José e Parangaba FOTO: ALCIDES FREIRE

Através do resultado da votação dos candidatos por bairro divulgado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o Diário do Nordeste fez um mapeamento para identificar quem são os parlamentares cujos votos estão concentrados em determinadas regiões da cidade, constatando que são pelo menos 18 vereadores nessa situação. Os cinco parlamentares que têm a maior parte de seus votos concentrados em locais específicos da Capital são, respectivamente, Vaidon, Jonh Monteiro, A Onde É, Leda Moreira e Joaquim Rocha.

Para o cientista político Horácio Frota, o vereador de bairro tradicional, aquele que mantinha um trabalho assistencialista sistemático nos bairros, não existe mais. "Com a construção da cidadania, isso foi se modificando. Como essa eleição teve uma quantidade grande de candidatos a vereador, pode ter uma área específica com muitos votos. Mas não vejo como um vereador de bairro assistencialista, com um trabalho diretamente vinculado ao bairro", afirma.

Segundo ele, o que define a votação desses parlamentares não é o bairro em si, mas o fato de terem ganhado evidência em determinadas localidades. Ele cita como exemplo o caso do vereador A Onde É, que teve 70% dos votos computados no Bom Jardim. Horácio Frota explica que o resultado não foi pela caracterização de um trabalho assistencialista vinculado ao bairro, mas pela multiplicidade de candidatos e pela falta de oportunidade de se tornar conhecido em toda a cidade pelo horário eleitoral.

Pulverização
"Nesta última eleição, houve pulverização grande de candidaturas, e os candidatos que não tinham muito espaço nos veículos de comunicação entraram na área onde eles podiam trabalhar. A região é onde ele se moveu para trabalhar, mas ele não é visto como o representante do bairro", justifica, acrescentando que essa pulverização revela também as votações pequenas de alguns eleitos.

Horácio Frota lembra que a prática assistencialista historicamente ficou com igrejas e políticos. "Na casa do verdadeiro vereador de bairro, tinha filas de atendimento. Esse tipo de vereador, que inclusive tinha vínculo com deputados, desaparece pela natureza da próprio processo eleitoral. Os que vão surgir são outros candidatos, que às vezes apresentam alguma troca, mas de uma forma diferente", diz.

Eleito para a Câmara Municipal com 4.423 votos, Vaidon (PSDC) tem 77,3% do seu eleitorado concentrado em dois bairros vizinhos: Cais do Porto e Vicente Pinzón. Na mesma região, o vereador eleito Jonh Monteiro (PTdoB) concentra 71% dos 10.782 votos que conseguiu nas seções dos bairros Mucuripe, Cais do Porto e Vicente Pinzón.

Mas do outro lado da cidade o cenário não é muito diferente. O vereador A Onde É conquistou o total de 6.042 eleitores no pleito deste ano, estando 70,2% deles centralizados no Bom Jardim e na Granja Portugal, duas localidades que fazem divisa entre si. Enquanto isso, a vereadora Leda Moreira (PSL), que exerce mandato na Câmara Municipal, foi reeleita neste ano com 8.279 votos, 67% destes em apenas quatro bairros vizinhos: Barra do Ceará, Cristo Redentor, Jacarecanga e Álvaro Weyne.

O quinto eleito para o Legislativo municipal com maior concentração de eleitores em uma região específica da cidade é o vereador Joaquim Rocha (PV), que teve 54,9% dos seus 9.346 votos apurados apenas nas seções instaladas nos bairros Castelão, Passaré e Dias Macêdo, três localidades bem próximas.

Benigno Júnior (PSC), Ba (PTC), Didi Mangueira (PDT) e Eulógio Neto (PSC) não exercem mandato na Câmara Municipal e, neste ano, conseguiram se eleger ao Parlamento contando com votos de áreas específicas da cidade. Enquanto Benigno Júnior tem 51,9% dos seus 5.660 eleitores apenas no bairro Vila União, Ba contabiliza 51% dos seus 5.011 votos computados somente nas urnas dos bairros Manoel Sátiro, Parque São José e Parangaba.

Já Didi Mangueira (PDT) centraliza 48,8% dos seus 6.944 votos em três bairros vizinhos: Bom Jardim, Granja Lisboa e Granja Portugal. Dos 6.832 votos computados para Eulógio Neto, 48% são provenientes de urnas do Conjunto Ceará. Outro vereador novato, Zier Ferrer (PMN), tem 32% dos seus 6.808 votos oriundos da região do São João do Tauape e Joaquim Távora. E Marcos Aurélio (PTC) teve 26,5% dos seus 4.951 votos apenas nos bairros Jardim América e Vila União.

Distribuído
A característica de vereador de bairro não atinge apenas novatos, embora a tendência dos novos vereadores, ao assumir mandato e ficar mais conhecidos na cidade, seja a de ter seu eleitorado distribuído. O vereador Adail Júnior (PV), por exemplo, vai agora para o seu segundo mandato, mantendo 46,7% dos 13.695 votos conquistados neste pleito em dois grandes bairros vizinhos: Antônio Bezerra e Autran Nunes. Mesmo no primeiro mandato, Adail Júnior se colocou como representante dos moradores daquela região.

Já o vereador Alípio Rodrigues conseguiu se reeleger com o total de 6.638 votos. Porém, 39,8% do eleitorado conquistado por ele estão centralizados em dois bairros próximos: Cristo Redentor e Jacarecanga. O vereador Walter Cavalcante (PMDB) mantém uma marca parecida que a do colega parlamentar, visto que 35,7% dos seus 12.061 votos estão na Vila Velha e na Barra do Ceará.

José do Carmo (PSL) e Antônio Henrique (PTN) também concentram parte significativa do eleitorado em algumas regiões da cidade. O vereador do PSL tem 29,7% dos seus 9.618 votos nos bairros Granja Lisboa e Bom Jardim, enquanto o do PTN tem 24% dos seus 13.328 eleitores morando próximo no Conjunto Esperança e Manoel Sátiro.

Na atual legislatura, os vereadores Leonelzinho Alencar (PTdoB) e Toinha Rocha (PSOL) protagonizaram uma série de embates na Câmara Municipal em razão da disputa eleitoral no bairro Messejana. No pleito deste ano, parte da votação dos dois parlamentares está centralizada na região. Isso porque 39,1% dos 14.486 votos de Leonelzinho está na Messejana e no bairro próximo, Lagoa Redonda. Enquanto isso, 22,9% dos 5.134 eleitores de Toinha Rocha estão apenas na Messejana.

REPÓRTERBEATRIZ JUCÁ

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