sábado, 21 de janeiro de 2012

‘Adversários vão tentar macular o Enem’

Às vésperas de deixar o Ministério da Educação, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que fará uma campanha sem ataques, mas não deixou de dar estocadas nos tucanos. “Eu não vou oferecer a São Paulo o espetáculo de difamação promovido em 2010 pelo PSDB”, disse, numa referência à disputa presidencial entre Dilma Rousseff e o ex-governador José Serra, marcada por insultos. “A campanha de 2010 deve nos servir de lição para afastar a deselegância e o mau gosto.”

Dilma preparou uma solenidade de despedida para Haddad na segunda-feira (23), no Palácio no Planalto, quando será anunciada a concessão da milionésima bolsa do ProUni. Pesquisa interna em poder do PT indica que uma chapa formada por Haddad e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PSD), seria imbatível, mas o ministro não parece empolgado com a aliança proposta pelo prefeito Gilberto Kassab.

Na quinta-feira, Haddad teve longa conversa com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que lançou a candidatura do deputado Gabriel Chalita. “Ele expressou a vontade de manter o PT e o PMDB unidos em torno de um projeto nacional”, disse. O ministro desconversou sobre a decisão de Serra de não entrar no páreo e, ao abordar os problemas do Enem, insinuou que o PSDB tem como calcanhar de Aquiles as privatizações de empresas estatais.

O secretário de Cultura, Andrea Matarazzo (PSDB), considerou “apavorante” sua ideia de reinventar São Paulo e foi irônico ao afirmar que nem pode imaginar o senhor usando na cidade a mesma técnica aplicada no Enem. Como o senhor responde a isso?

“Graças ao Enem, nós vamos conceder, na segunda-feira, a milionésima bolsa a alunos da escola pública pelo Programa Universidade para Todos (ProUni). Estamos promovendo a maior inclusão na educação superior da história do País. Eu não pretendo responder a agressões pessoais. A campanha de 2010 deve nos servir de lição para afastar a deselegância e o mau gosto”.

O senhor não teme ser conhecido como o candidato dos erros do Enem?

“Pode ser que seja essa a linha dos nossos adversários. Há uma tentativa de desgastar um projeto que tem 80%, 90% de aprovação, como o Enem. Da mesma maneira que tentaram macular o Bolsa Família, o PAC, o ProUni, vão tentar macular o Enem. Agora, não há no mundo um exame nacional do ensino médio que não passe pelos problemas que enfrentamos aqui. As tentativas de fraude foram abortadas pela Polícia Federal. Na China houve problemas, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França”.

O novo Enem está no terceiro ano e em todos eles houve problemas. Não era possível prever falhas?

“Mas nós vamos ficar falando só de Enem? Há quantos anos existe o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que tem 2% do tamanho do Enem? A Polícia Federal apurou fraude em cinco edições”.

O senhor não conseguiu conquistar aliados de peso até agora. O PMDB apresentou o deputado Gabriel Chalita como candidato, o PDT e o PC do B também têm concorrentes… Como reverter esse quadro de divisão na base?

“Mas quem conseguiu apoio a essa altura? Está tudo muito no começo. Não vi nenhuma aliança ser fechada. Estão todos buscando entendimentos”.

Por que o senhor não se entusiasma com a proposta do prefeito Gilberto Kassab de apresentar um nome do PSD para seu vice, já que Lula defende a aliança?

“O prefeito foi claro em sua estratégia de curto prazo, que é buscar uma aliança com Serra. Embora ele tenha sinalizado simpatia por outra alternativa e elogiado o PT, deixou claro que a perspectiva era outra. Penso que o prefeito está estudando cenários. Devemos receber com naturalidade um gesto de generosidade e simpatia. Você ganha a eleição assim, angariando apoio, independentemente de aliança eleitoral”.

Não é contraditório o PT se aliar ao PSD em São Paulo, já que faz oposição a Kassab?

“O PT, nesse momento, está buscando entendimento com partidos da base aliada da presidenta Dilma”.

Mas o PSD, hoje, é quase como se fosse da base de Dilma…

(Risos). “Ele tem feito gestos importantes de aproximação, embora se declare independente”.

(Estadão)

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