É difícil saber quão calculado foi o gesto, mas José Pimentel (PT) incorporou
o figurino ideal ser para candidato a prefeito na condição de opositor de Cid
Gomes (PSB). Há poucos dias, quando foi colocado na lista de alternativas para a
sucessão municipal, o senador disse que seu objetivo é ajudar na parceria entre
PT e PSB. No entanto, pode ter sido o responsável pelo fim da aliança. Se já era
totalmente improvável, hoje não há a mais remota condição política de ele ser
candidato a prefeito com apoio do Executivo estadual.
Por outro lado, na cada vez mais factível hipótese de rompimento, é difícil o
PT escolher um candidato que não ele. Pimentel questionou a capacidade gerencial
do Estado, algo caríssimo ao governador e considerado artigo em falta na
Prefeitura. Passou a incorporar, dessa forma, o contraponto petista em relação
ao Governo do Estado. Conseguiu tirar o governador do sério como poucas vezes se
viu. É bom lembrar que o discurso de campanha municipal tendo como foco a
oposição à administração estadual não é novo. Foi repetitivamente usado na época
em que a esquerda tinha como alvo favorito o “grupo do Cambeba”.
Desde a semana passada, a Prefeitura está sob fogo cerrado dos Ferreira Gomes
pela suposta inoperância administrativa. Como disse um influente petista, fosse
em outros tempos, no dia seguinte partiria do PT um fuzil “AR-15 na imprensa,
atirando para todo lado”. Curiosamente, o “tiroteio” vem sendo disparado por
personagens normalmente apaziguadores: Cid e Pimentel. A tarefa de jogar água na
fervura tem cabido a Luizianne Lins, justamente quem costuma dar as declarações
que provocam as crises.
O mundo político cearense parece mesmo de pernas para o ar. A Prefeitura
tenta dar o tom de que nada teve com as críticas do senador. O Palácio da
Abolição, contudo, entendeu como resposta às críticas feitas na semana passada.
Depois que o Estado apontou o dedo para o Município, teve contra si apontado o
dedo do Governo Federal.
Cid foi explícito: recebeu a manifestação como declaração de guerra. Se não
houver competente, cuidadosa, intensa e cirúrgica ação para debelar a crise, a
aliança PT-PSB irá irremediavelmente para o espaço. Com isso, os diversos fóruns
da política estadual entrarão em pé de guerra. A eleição será um “salve-se quem
puder”.
No começo de 2010, Pimentel elencou as obras estaduais para as quais
assegurou recursos quando foi relator do Orçamento federal de 2008. Ressaltou
sua lealdade em relação à administração Cid e cobrou reconhecimento e
reciprocidade. A reação veio de Ivo Gomes e foi indignada. “Nós não devemos nada
ao Pimentel. Nada ao Pimentel. Nada!”, enfatizou, E ainda acrescentou:
“Reconhecimento de quê?! O quê?! Qual é o reconhecimento?”
(O POVO / Coluna Política / Érico Firmo)
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