“Com o rosto coberto pelo capacete, o assaltante entra no local onde é feito
o pagamento aos garis do município de Croatá, a 355 quilômetros de Fortaleza. Na
companhia de um outro homem armado, rouba cerca de R$ 12 mil. Tenta fugir de
moto, mas acaba sendo preso em flagrante. Um tipo de assalto que tem se tornado
comum, não fosse por um detalhe: o criminoso era um soldado da PM. Ele acabou
sendo expulso da Polícia após responder a processo administrativo.
O combate ao envolvimento de policiais com o crime é um desafio para a
segurança pública. Somente este ano (até o dia 3 de abril), pelo menos 27
militares do Ceará foram expulsos da corporação – a média é de um a cada três
dias. Comparando com o mesmo período do ano passado, quando 18 foram expulsos, o
aumento foi de 50% no número de expulsões. O levantamento foi feito a partir de
documentos oficiais a que O POVO teve acesso com
exclusividade.
Os policiais punidos foram alvos de processos administrativos que apontaram o
cometimento de transgressões disciplinares graves. A lista de crimes inclui
homicídio, abuso sexual, tráfico de drogas, venda de armas, extorsão, roubo e
envolvimento com quadrilhas organizadas. Também há casos de PMs expulsos por
dormir na viatura, praticar racha com as Hilux e falsificar atestado médico para
faltar ao trabalho.
Em todo o ano passado, foram expulsos 61 policiais, 23 a mais do que em 2010
– um acréscimo de 63%. “Aumentou muito. Está havendo um exagero. O comandante
(da PM) quer ficar conhecido como o homem que mais expulsou policiais”, comenta
o soldado Pedro Queiroz, presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e
Corpo de Bombeiros do Ceará (Aspramece).
Para Pedro Queiroz, nem todos os casos de expulsão são justos. Ele cita o
exemplo de um policial que foi demitido por ter faltado ao serviço durante a
Operação Carnaval de 2011, para a qual havia se voluntariado. Escalado para
trabalhar em Crateús, o soldado não compareceu ao local “mesmo tendo recebido as
diárias de pousada e alimentação pelo deslocamento ao Interior”, informa o
documento da PM. O policial não teria devolvido a quantia recebida. “Nesse caso,
ele não cometeu um crime. Foi uma transgressão disciplinar”, argumenta
Queiroz.
Desde a última quinta-feira, O POVO tenta entrevistar o
comandante da Polícia Militar, coronel Werisleik Pontes Matias. Ele chegou a
atender algumas ligações, mas sempre pedia para retornar depois por estar em
reunião. A reportagem também não conseguiu falar com o titular da Controladoria
Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do
Ceará (CGD), Servilho Paiva. Segundo a assessoria de imprensa, ele havia viajado
e só poderia receber a equipe do O POVO esta semana.”
(O POVO)
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