domingo, 23 de outubro de 2011

OS EFEITOS PERVERSOS DA CRISE DA SULANCA: O CASO DO "LIXO HOSPITALAR"

A “Importação de Lixo Hospitalar”, de vasta divulgação por todas as mídias há mais ou menos três semanas, para mim é revelador de algumas situações estranhas e perigosas, dentre estas a ganância por dinheiro e o desrespeito pelo consumidor. Ou seja, o total desprezo pela vida humana.

Mas isso também expõe outras patologias deste capitalismo predador, que se espraia por tudo quanto é comércio, desde a faculdade que vende diplomas falsificados, a farmácia que vende remédios vencidos, o supermercado que embala produtos vencidos, com novos prazos de validade, e por aí vai.

Em principio o fato expõe a fragilidade da indústria emergente da Sulanca, seja a indústria surgida a partir do fabrico de peças de vestuário com restos e retalhos da indústria do sul/sudeste do país.

Essa indústria criativa de pobres para pobres, surgida já nos anos de 1940¹, ecologicamente correta, pois o que seria lixo nos grandes pólos paulistas é transformado em vestuário barato, e que evoluiu para a confecção de peças sofisticadas, talvez não tão mais elaborada do reaproveitamento de retalhos.

A notícia revelada põe em cheque a sustentabilidade do chamado “Pólo Têxtil” do estado de Pernambuco, e com ele um ramo econômico que se expandiu no Nordeste inteiro (e Brasil), a partir dos “sacoleiros” que compram os produtos naquele pólo e vendem país afora, seja nas feiras, nas lojas, nas bodegas e até nas boutiques de “grifes de luxo”.

Sorrateira, a sulanca chega a butiques de capitais, onde é vendida como confecção fina do Sul do País. Vende hoje para muitos estados do Brasil, além de colocar seus produtos no exterior. Santa Cruz do Capibaribe virou um centro criador e exportador de modas. Apesar dos pecados (sonegação e outros), a coisa é um modo eficiente de gerar e distribuir renda”. ²

Há quem veja nesse possível “lixo hospitalar” o dedo da grande indústria da confecção, ou o dedo dos americanos tentando destruir a indústria nacional (como aconteceu com o bicudo) e até há quem veja meios transversais de destruir a pirataria têxtil, que utiliza etiquetas de marcas famosas em seus produtos. Será?

Se alguma das hipóteses for verdadeira os governos locais foram ingênuos em não fiscalizar com rigor as importações - e note-se que de grandes volumes, são toneladas e mais toneladas de produtos e imensos conteiners- e mais ingênuos ainda quem comprou tais produtos, pois além de expor a si próprios, aos seus empregados e a população aos riscos de contaminação (inclusive radioativa, os hospitais usam a radioatividade em seus tratamentos de saúde) exporam-se ao suicídio econômico. Aí está o impacto das ações e omissões.

Não adianta agora chorar pelo leite derramado, derramado está. E não adianta tentar esconder, inventar justificativas, peocurar responsabilizar esta ou aquela pessoa física, quando o acontecido revela um conjunto de ações mal feitas, muito bem coordenadas, de onde saiu e para onde chegou.
Desconstruir a imagem de pano velho contaminado vai demorar “quem tem fama deita na cama”, o consumidor hoje na hora de comprar duvida de tudo quanto é feito de pano, do lençol à fronha que pensávamos estar limpos, à nossa roupa de dormir, ao pano de chão e de prato. O acontecido virou uma espécie efeito Fukushima do agreste.

Como dizia uma minha velha amiga: “A merda virou boné”
1. Para uma corrente, sulanca vem da união de helanca (malha vinda do Sul do País) e sul. Outros dão como origem uma designação depreciativa dada ao produto no início, algo como sucata. Esta hipótese tem mais fundamento porque é coerente com o princípio da coisa: coberta ou roupa feita pelo povo com pedaços de retalhos. Era coisa mal acabada, de carregação mesmo, como poderia ser em sua origem numa sociedade então muito pobre, que buscava sobreviver com seus próprios meios. Assim, é provável que o su de sulanca tenha vindo de sucata assim como o lanca, de helanca. Nessa versão, a sulanca, pois, originariamente, estaria para a confecção usual assim como a sucata está para o equipamento normal. http://www.geocities.ws/sulanca/sultxt.htm em 21/10/2011 às 8:44 hs


2. http://www.geocities.ws/sulanca/sultxt.htm em 21/10/2011 às 8:44 hs

Imagem. Créditos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mulheres_feira.jpg

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