terça-feira, 6 de março de 2012

Ceará em guerra: 166 mortos a bala

Números que assustam. Em fevereiro, 166 pessoas foram mortas a bala no Ceará. A informação é do Instituto Médico Legal (IML), em Fortaleza, que contabilizou a entrada de mais 224 corpos, 79 provenientes de acidentes de trânsito, 19 por homicídio com armas brancas (facas, foices e estiletes), seis pessoas espancadas, sete mortos por queimaduras, quatro envenenamentos e quatro vítimas mortas a pauladas.

A coordenadora geral de Medicina Legal da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), a médica Helena Maria Barbosa Carvalho, ressaltou a dificuldade de trabalho no caso de homicídios a bala. “A perícia em um corpo, vítima de homicídio por bala, requer que os peritos descubram o que é a bala, onde está alojada e qual trajetória fez pelo corpo da vítima. O médico legista demora até duas horas para fazer uma perícia deste tipo completa”, explicou.
Perita desde 1982, Helena avaliou que o alto número de assassinatos é consequência do comportamento do ser humano. Conforme ela, a Pefoce faz um levantamento semanalmente sobre os corpos que chegam ao IML. “Somente no final de cada mês, passadas quatro semanas, executamos uma pesquisa mais detalhada”, detalhou. Em fevereiro, foram registrados, ainda, nove pessoas mortas por afogamento, 23 mortes provocadas por quedas e 37 com causa ignorada.

SEM ESPAÇO ADEQUADO
Muitos corpos e pouca estrutura tornam o trabalho dos peritos ainda mais complicado. O prédio do IML, na avenida Leste Oeste, está em reforma desde 2009, mesmo sendo a intervenção prevista para terminar em 360 dias. Assim, as equipes de peritos foram distribuídas em dois prédios: no necrotério do Serviço de Verificação de óbito (SVO) e em um prédio situado na avenida Heráclito Graça. “Tinham previsão de conclusão da obra para 2010, então, já estamos em defasagem”, frisou Helena.

Para o diretor-geral da Academia Estadual de Segurança Pública, César Barreira, “é difícil saber os motivos de tantas mortes”. “Hoje, podemos ver o aumento dos investimentos do Estado na Segurança. Como exemplo, os pontos como apreensões de armas aumentando. É preciso ver os períodos passados e fazer um estudo mais elaborado”, avaliou.

O Estatuto do Desarmamento, uma Lei Federal de 2003, “dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição (...)”. A lei proíbe o porte de armas por civis, com exceção para os casos onde haja necessidade comprovada; nesses casos, haverá uma duração previamente determinada e sujeita o indivíduo à demonstração de sua necessidade em portá-la. Os 166 mortos em 29 dias contradizem a eficácia da legislação.

MEDO
“A gente precisa se preocupar, cada vez mais, em modificar esta situação. O homem está cada vez mais violento. As pessoas parecem ter até medo de falar umas com as outras. Todo mundo querendo agredir quem está na frente”, opinou a professora Ana Cristina Pereira.
O vendedor Antônio Machado afirma ter até medo de sair de casa. “Você não sabe se vai ser agredido ou não. A gente fica com medo. É uma pena, ver uma cidade tão bonita e não ter coragem de passear por ela”, destacou.
BLOG MACÁRIO BATISTA

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